quarta-feira, 27 de março de 2013

Tempos estranhos

Já não se fazem mais assaltos como antigamente. Mesmo assim, muita coisa ainda permanece igual. Não fosse o caos que assola os moradores da região serrana do Rio de Janeiro, em especial Petrópolis, seria o caso de se usar um clichê típico: o mar de lama ainda é o mesmo. A violência cresce. Cresce nas estatísticas, cresce na ousadia, cresce no abuso. E a sociedade permanece estática – estado de choque, talvez? – esperando pela ação de seus governantes, que já não sabem mais exatamente qual o seu papel nessa história. Afinal, governar hoje em dia tem sido cada vez mais confundido com "estar em permanente campanha eleitoral".

A Vila Arens (em Jundiaí, 60 km da Capital, para os forasteiros) foi tomada de assalto por um grupo de marginais. A ação foi classificada como um arrastão, um neologismo perfeito para identificar esses novos tempos. O grupo invadiu dois estabelecimentos comerciais e levou objetos de aproximadamente 30 pessoas, tudo em plena luz do dia. A ação rendeu ao grupo – eram pelo menos quatro bandidos – a espetacular marca de algumas dezenas de aparelhos celular e os trocados que as vítimas, a maioria funcionários dos estabelecimentos assaltados, tinham na carteira. Num único estabelecimento, os assaltantes lembraram de recolher alguns equipamentos que estavam expostos.

O que há de exótico em tudo isso? Primeiro, a incoerência. Eu outros tempos, os assaltos eram planejados  obedecendo alguma lógica. Primeiro, não chamar a atenção; em segundo, render uma quantia mínima que justificasse o risco; em terceiro, e não menos importante, não ser pego! Dessa forma, o assalto acontecia na maioria das vezes à noite, com menor risco de exposição – tanto do assaltante quanto de eventuais vítimas – e em estabelecimentos em que eles sabiam, de antemão, poderiam obter um bom resultado. Não que esse tipo de crime não ocorra nos dias de hoje, mas temos observado cada vez mais ações abusadas e violentas.

Um assalto, hoje, é muito mais um ato ostensivo. Daí a espetacularização do tal arrastão – a mídia adora esses rótulos –, que começou nas praias do Rio de Janeiro e se espalhou para o resto do país. Cada vez mais, a ação criminosa se parece com atos terroristas, mais para chamar a atenção do que pelos resultados. Embora o objetivo primário ainda seja meter a mão em algo que não lhe pertence, a exposição da mão armada e o choque provocado pelo ato brutal, sempre com um número maior de vítimas, parecem fazer parte do metier desses bandidos da nova era. O impacto do arrastão é que demonstra a nossa passividade. O quanto somos indefesos diante da irracionalidade violenta.

Acredita-se que essas ações sejam motivadas pelas drogas. Faz sentido. A maioria dos aparelhos levados nesse tipo de roubo serve como moeda de troca em qualquer boca de fumo, espalhadas pelas cidades brasileiras. Mas não se pode ignorar, também, que esse modus operandi está associado aos modismos dos tempos atuais. A ação criminosa não deixa de ser um reality show mal-ajambrado, ruminado à exaustão pelos programas popularescos que infestam a televisão brasileira, e revelada pelas câmeras de segurança, como num ridículo Big Brother às avessas.

P.S. Os assaltantes não foram presos. Mas foram tantas pistas deixadas para trás que seguir o rastro não será difícil. Pelo menos é o que se espera, mas isso já é outra história.

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