Quem te inspira? Ou melhor, quem te influencia?

Dashiell Hammet

Dizem que você é o que você come...E eu digo: você escreve aquilo que você lê. Não adianta negar. Todo escritor tem uma lista enorme de influências. Aqueles autores que mudaram sua cabeça quando você tinha 10, 13, 15, 17, 19, 20, 25, 30... anos. Cada um desses escritores deixou um carimbo indelével na sua pele, no momento em que você leu aquele livro mágico. E cada pedacinho de todos esses livros formam o mosaico que hoje forma aquilo que você chama de seu modo de pensar.
Essa regra vale para todos e para todas as profissões. E é muito forte em quem fincou o pé na Literatura.

Vamos deixar um ponto bem claro. Tenho visto muita gente dizer que fulano ou sicrano lhe inspira. Isso pode produzir uma frase de efeito interessante, simpática, bonitinha. Mas esqueça. Esse negócio de inspiração não existe.

O ato de escrever, por si só, exige uma responsabilidade muito grande para que alguém confie nessa tal de inspiração. E, depois de 20 anos de prática jornalística, cumprindo prazos e sentindo a pressão de editores, posso afirmar com tranquilidade: se depender dessa tal inspiração, você está fora!

Agora, não se pode negar as influências. Normalmente não é um autor, são vários, muitos. No meu caso, em particular, posso apresentar uma lista enorme, que inclui Antoine de Saint Exuperry (não, meu livro preferido não é O Pequeno Príncipe), Jorge Amado, Ferreira Gullar, Ignácio de Loyola Brandão, Fernando Sabino... e por aí vai.

Raymond Chandler

Lá no fundo, quase perdidos nesse imenso baú de influências, estão alguns livros que eu li ainda na adolescência. Embora tivessem causado grande impacto na época, não aparecem entre os que mais influenciaram na minha formação. Até agora!

Eu não esperava trilhar os caminhos dos livros de Crime, Suspense e Mistério, isso é um fato. Acabei entrando nessa meio que por acaso. Porém, depois de entrar, não teve jeito. A saída foi buscar no fundo daquele baú as histórias que deixaram sua marca indelével e que carimbaram em mim o fascínio de mergulhar no mundo do crime. No pacote ainda entram Agatha Christie, Arthur Conan Doyle. Mas nenhum outro foi tão marcante quanto O Falcão Maltês, de Dashiell Hammet, nem tão inesquecível quanto Um Longo Adeus, de Raymond Chandler. Claro, os livros só vieram porque um dia eu assisti aos filmes – os dois detetives mais famosos do universo noir foram consagrados no cinema pelo mesmo ator: Humphrey Bogart.

Filmes e livros se completam, afinal, o universo noir é extremamente visual. Porém, mergulhar nessas histórias nas páginas do livro é infinitamente melhor. Ainda mais com o estilo seco, direto, forte desse dois escritores. Hammet e Chandler são referências naturais para quem quer ser aventurar nas trilhas do suspense e mistério.

Steve Martin em Cliente Morto não Paga

Os amigos e inimigos de Carlotta

Eu pelo menos não me espelho apenas nos livros. Ainda que sejam as fontes mais confiáveis. Ainda mais quando os tempos são outros. Apenas o texto seco e direto já não basta. O filme Cliente Morto Não Paga, além de uma rica homenagem ao cinema noir, traz uma leitura brilhante do universo dos detetives, de forma bem escrachada. Quem nunca imaginou fazer piada com a cena clássica em que o detetive entra num táxi e diz: "Siga aquele carro!"? Steve Martin faz.

O humor não é um elemento estranho nas histórias de suspense e Mistério. Tenho para mim que humor não pode ser dispensado nunca. Aliás, para Autran Dourado, um dos autores nacionais que mais se dedicou a refletir o trabalho do escritor, surpreender o leitor é uma das armas do arsenal de qualquer bom profissional. Eu pessoalmente acredito que o humor é uma ótima ferramenta para quebrar o ritmo e entregar boas surpresas.

Dicas de leitura

Quer mergulhar no universo do Mistério &¨Suspense, então segue uma listinha(*) dos clássicos:

1. Mulher no Escuro – Dashiell Hammet
2. Para Sempre ou Nunca Mais – Raymond Chandler
3. Tiros na Noite – Dashiell Hammet
4. Janela para a Morte – Raymond Chandler

(*) Livros disponíveis na Amazon. A lista é maior para edições originais em inglês. É só pesquisar e boa leitura!