quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

O lado bom e o lado ruim do filme adaptado de um livro

Cartaz do filme virou a capa do livro
Li recentemente o Lado bom da Vida, de Matthew Quick. Um livro impressionante, daqueles que aceleram sua alma. Começa chato. Confuso. Mas acelera, ganha ritmo e envolve. Quando você percebe, não consegue mais desgrudar. No terceiro dia de leitura, avancei pela madrugada, louco para chegar ao fim. E o livro acabou exatamente como começou. Se você ler, vai entender. Ele não começa e também não acaba. Mas e daí. A vida não é assim mesmo?

Mas o que me deixou realmente intrigado foi o filme, que falaram tanto. Topei com vários comentários dando conta de que o filme era muito fiel ao livro. Imagino que quem tenha dito isso não leu o livro. Mas vamos dar um desconto. Nenhum filme será uma cópia fiel do livro, mesmo porque isso é tecnicamente impossível. A relação de tempo é diferente entre um veículo e outro. Portanto, é comum roteiristas e diretores jogarem as páginas do livro num liquidificador, bater bem e tentar extrair dali a linha mestra do filme.

Assim, personagens são fundidos em um só. Sequências chave que se desenrolam em várias páginas – às vezes em vários capítulos – são sintetizadas em uma única cena. Tem que ser assim. Mesmo Guerra e Paz, o filme de King Vidor, com suas longas 3,5 horas de duração, é apenas uma pequena síntese dos quatro volumes de Tolstói.

Não deixa de ser um bom filme. Uma versão amenizada, liquidificada e adaptada do livro. Mas não chega aos pés do livro. A tensão neorótica do personagem central, Pat Peoples, que no filme ganha ascendência italiana – talvez consequência direta da participação do ícone Robert de Niro no papel do pai – perde-se por completo. É justamente essa tensão (você nunca sabe se o personagem vai explodir ou não em mais um ataque de fúria!) que empresta charme ao livro. A própria relação esquizofrênica entre pai e filho – mais uma vez, talvez consequência da participação do ícone Robert de Niro no papel de pai – também é desperdiçada. Tanto que, no filme, temos a impressão de que o verdadeiro doente é o pai, não o filho. Sem contar o non sense e as gags não intencionais que brotam da repetição exaustiva de trechos e de falas. Afinal, Pat Peoples, o narrador da história, sofre de um grave transtorno mental e mantém um pensamento linear, quase infantil.

Mas o filme também tem seu charme. Quase todo ele concentrado em Jennifer Lawrence, que não se parece nem um pouco com a Tiffany do livro. Mas criou a sua própria Tiffany, tão valiosa e importante quanto a original.

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