sexta-feira, 3 de maio de 2013

Dia 3 de maio é Dia da Liberdade de Imprensa


E a moda, nos dias de hoje, é bater palmas para a censura.


Vivemos num tempo muito esquisito. Pleno século 21 e a impressão que tenho é de que estamos voltando para a idade média. Algumas reações são sintomáticas. Outro dia, assistindo um telejornal de respeito, vejo o âncora quase incitando o linchamento de um motorista porque ele havia atropelado um ciclista.
Sim, eu concordo. Caso gravíssimo esse. O ciclista morreu. A TV exibiu imagens gravadas pelo circuito de segurança. Não fosse um círculo marcando a posição do ciclista, quase não teria percebido ele ali. Mas o motorista não tinha aquele círculo vermelho indicando que aquela sombra que se movia era um ciclista. Ou tinha? O atropelamento ocorreu à noite, numa rua movimentada do Rio de Janeiro. Não é a tragédia em si que causa espanto, mas a forma como reagimos a essas tragédias. Muitas vezes de forma seletiva. Cadê a tal racionalidade que deveria ser a marca do Século 21?

Vivemos uma guerra urbana, com ataques seletivos de grupos criminosos em várias partes do País. Em 2006, começaram os ataques regulares do PCC, em São Paulo. E o máximo que nossa sociedade conseguiu extrair desses eventos foi que o nome do grupo não deveria mais ser mencionado em notícias. Jornais, revistas, rádios e telejornais começaram a se referir ao "grupo criminoso que atua dentro e fora dos presídios". Soa parecido com o famoso "aquele cujo nome não mencionamos", das histórias de Harry Potter. Nenhuma discussão séria, nenhuma mudança na lei... Nada.

Estivessem as pseudo-autoridades que governam o País – em especial nossos congressistas, cuja principal função é debater e aperfeiçoar leis – realmente preocupados com o que acontece à nossa volta, teríamos uma excepcional temporada de debates e, quem sabe, a modernização da nossa legislação criminal. Afinal, uma coisa é a ação de quadrilhas, grupos criminosos organizados. Outra, completamente diferente, são ataques terroristas organizados com o objetivo de intimidar a sociedade.

E as ações do PCC não tiveram outro objetivo – como várias ações impetradas ainda hoje – senão de intimidar. Acabamos reféns. Não tanto das ações dos criminosos. Mas da nossa própria inoperância. Se observarmos bem de perto, vamos perceber que nossas pseudo-autoridades estão mais preocupadas com as próximas eleições do que realmente em cuidar de suas tarefas cotidianas. E quando não estão preocupadas com sua reeleição, preocupam-se em propor leis para controlar o STF e censurar a Imprensa.

Nos parcos e pobres debates que surgem aqui ou ali, sobre temas relevantes, identificamos de imediato a ação orquestrada, o dedão do marqueteiro, a mobilização militante. E a ação criminosa e os atropelamentos de ciclistas acabam servindo aos interesses político-partidários. E nós, inocentes, sequer percebemos tudo isso. Distraídos, às vezes aplaudimos tudo isso, sem perceber e ainda comemoramos a atitude corajosa do âncora, que sugere o linchamento do motorista.

Aí você pergunta: mas afinal, o que tudo isso tem a ver com o dia da Liberdade de Imprensa? Ora, vivemos tempos esquisitos, não é mesmo?

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