quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A fúria para fazer aquilo que já devia ter sido feito

Nós brasileiros somos muito engraçados. Nos sensibilizamos imensamente com tragédias. Talvez mais do que qualquer outro povo. Porém, não ligamos a mínima para tudo o que possa causá-las. Aquele emaranhado de fios que se acumulam nos postes, principalmente nas favelas, não traria um risco enorme de incêndio? Mas as fotos dos fios se espalham pelas redes socias e muitos consideram aquilo como arte.
Ficamos chocados com crimes bárbaros. Exigimos justiça a qualquer preço mesmo que, para isso, a própria Justiça seja deixada de lado. Mas não estamos nem aí para as estatísticas pavorosas que se repetem em todas as partes do país. A fúria, agora, é para perseguir e fechar todas as casas noturnas que não tenham álvarás, laudo do Corpo de Bombeiros, ou válvula Hidra nos banheiros.

Antes da tragédia de Santa Maria, nada disso era importante ou digno de nota. Principalmente para aqueles encarregados de fiscalizar tudo isso (fios nas favelas, extintor de incêndio nas paredes ou crimes cometidos na calada da noite em qualquer vilinha perdida nos confins do Brasil). Depois da tragédia, precisamos segurar a multidão, louca para linchar o primeiro que ousar botar a cabeça pra fora ou que lhe couber o título de culpado. Como é que se explica para uma multidão enfurecida que não existe um só culpado? E que os culpado somos todos nós? Na mente brilhante do brasileiro médio, os culpados são sempre os outros.

Não foi diferente quando o edifício Andraus foi destruído por um incêndio, em 1972. Nem o suficiente, quando o edifício Joelma incendiou, dois anos depois. Talvez também não seja suficiente agora, porque o essencial, aquilo que realmente precisa ser feito sempre vai ser deixado para depois.

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